A influência dos genes na vida psíquica do indivíduo poderá ser equacionada de relevante (ou não), não apenas enquanto determinante directa de uma maior propensão agressiva, mas também enquanto determinante indirecta; ao atribuir ao sujeito determinadas características (herdadas genéticamente) como a debilidade intelectual ou a impulsividade, as quais, particularmente se conjugadas no mesmo indivíduo, não deixarão de se repercutir na inserção vivencial do sujeito e potenciar um comportamento homicida. E, se adicionarmos a estas características do indivíduo uma educação propiciada por pais igualmente limitados, eventualmente alcoólicos, e vivendo num meio degradado, percebemos como certas características biológicas se podem associar a factores culturais, educativos ou sociais, no sentido de potenciarem circunstâncias que levem o sujeito a cometer um homicídio.
Alvo do maior interesse e estudo têm sido as mutações genéticas. As relativas ao cromossoma 47 foram, desde há muito apontadas como um dos factores causais deste aumento de agressividade e criminalidade.
Contribuiu para isso o facto de os indivíduos com um cariótipo 47xyy (síndrome da supermasculinidade), ou seja, com um cromossoma y suplementar, terem, além da frequente debilidade mental, propensão à violência e serem, frequentemente encontrados entre a população prisional numa percentagem maior do que seria de esperar.
Foi publicado um estudo por Jacobs e Colab em 1965 com 197 indivíduos débeis e violentos e constataram que oito revelavam possuir o cromossoma Y suplementar, ou seja, uma percentagem de quase 4%, contra 0,1% da população geral.
No caso da síndroma de Klinefelter, com cariótipo 47-XXY, e que atinge 1 em 1000 homens, a afectação psico-orgânica é ainda mais marcada e 25% destes indivíduos revelariam comportamento antissocial.
A hipótese de o cromossoma X propiciar um ser menos agressivo não parece convincente porque as mulheres com síndroma de Turner (XO) não são mais agressivas que as mulheres normais (XX) enquanto as mulheres com triplo XXX evidenciam mais problemas comportamentais que as mulheres normais.
A importância da hereditariedade é demonstrada em traços de carácter como a agressividade, a impulsividade ou a maior instabilidade emocional.
Lagerspetz, na Finlândia, separou, a partir de uma adopção cruzada, os ratos mais agressivos dos não agressivos. Após cruzar algumas gerações de ratos (machos e fêmeas) obteve uma espécie altamente agressiva. Similarmente, quando se cruzavam ratos de diferente género não agressivos obtinha-se uma espécie de ratos não agressivos que dificilmente reagia às provocações de que era vítima. O investigador demonstrou que as diferenças entre a agressividade dos ratos não só se deviam a factores do meio, mas também a factores genéticos.
Poder-se-ia deduzir que nos humanos tudo se passaria de modo semelhante. No entanto, o facto de estes terem uma enorme capacidade de aprendizagem, viverem muitos anos na dependência de educandos, não se poderem cruzar segundo o livre-arbítrio dos investigadores não permite extrapolar que as conclusões obtidas a partir de investigações com animais sejam sobrepostas e extensíveis aos seres humanos. Por isso, estudos de gémeos e estudos de adopção passaram a ter uma grande importância.
Um dos trabalhos mais importantes foi o de Christiansen que estudou 3586 pares de gémeos dinamarqueses nascidos entre 1881 e 1910. o autor encontrou uma concordância na criminalidade para os pares de gémeos monozigóticos (52%) que era 2,3 vezes mais alta que a dos pares de gémeos dizigóticos (22%).
Mednick, num estudo similar, estudou 14 427 rapazes dinamarqueses adoptados entre 1924 e 1947, descobriu que:
- a taxa de comportamento criminal era de 13,5% quando nem os pais biológicos ou adoptivos eram criminosos.
- 20% quando só os pais biológicos eram criminosos.
- 24,5% naqueles casos em que ambos os pais, biológicos e adoptivos, estavam envolvidos no crime.
A agressão não se trata de um traço de personalidade herdado, mas os factores que influenciam a agressão podem ser transmitidos geneticamente. Esses factores incluem o perfil de actividade hormonal, os limiares de activação das estruturas cerebrais e, evidentemente, as epilepsias geneticamente transmitidas.
Relacionadas com a agressão, estão também as hormonas, a testosterona tem sido a hormona sexual mais importante. Vários estudos têm demonstrado que a agressividade pode ser diminuída com tratamento à base de estrogénio e, em menor proporção, com progesterona.
As hormonas são mensageiros químicos que são inseridos na corrente sanguínea pelas glândulas endócrinas (referente ao sistema endócrino) e pelas células nervosas (neurónios). As mensagens que transmitem regulam o crescimento ou o funcionamento de órgãos e tecidos específicos, em cujo o processo poderão influenciar o comportamento humano. Nos últimos cinquenta anos do século transacto, os investigadores atentaram na possibilidade de um desequilíbrio no nível das hormonas sexuais do corpo poder estar ligado à criminalidade.
As pesquisas sugeriram que a hormona sexual masculina testosterona está directamente ligada a crimes agressivos e anti-sociais como a violação e o homicídio. Os níveis de testosterona sobem na puberdade e no princípio da casa dos 20 anos, algo que se associa às taxas mais elevadas de crimes.
É também sabido que o sistema límbico do cérebro, que controla as emoções como a raiva, o amor-ódio, o ciúme e fervor religioso, pode ser afectado pela testosterona. No entanto, embora se tenha verificado que nos violadores mais violentos se verifica uma secreção elevada de testosterona, não se estabeleceu uma ligação directa entre o comportamento criminoso e os níveis de hormonas sexuais.
Os investigadores também verificaram os efeitos de uma deficiência ou desequilíbrio nutricional sobre o comportamento. Por exemplo, um estudo recente relata que um grupo de prisioneiros submetido a uma deita especialmente concebida com uma quantidade progressiva de vitaminas deu mostras de melhoramento notáveis no comportamento.
Os níveis de açúcar no sangue foram notavelmente importantes num caso de homicídio ocorrido em 1989. Um homem esfaqueou a mulher e depois tentou suicidar-se cortando os pulsos. Posteriormente, verificou-se que sofria de amnésia. Nos dois meses que precederam o crime, tinha seguido uma dieta bastante rigorosa, abastecendo-se de açúcar, pão, de batatas e de fritos, mas bebera dois copos de whisky na manhã em que cometera o crime.
No julgamento, médicos especialistas testemunharam que sofria de hipoglicemia, um baixo nível de açúcar no sangue. Disseram que isto era suficiente para impedir o funcionamento normal do cérebro e que reduzia substancialmente o sentido de responsabilidade,tornando-se talvez num autómato, o júri considerou-o inocente.